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Editorial - 02
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Matemática 1º CEB
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Educ./Poder Local III
Educ./Poder Local IV
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Avaliação e PEA
A Tapada da J. Régio
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Enfoque nas Soluções
Formação e BEs
Quem nasceu em 34?
O meu aluno Albino
As aulas da noite
Cartoon

 

 

Enfoque nas Soluções

Jorge Vilhais
Escola Secundária de São Lourenço

O último quartel do século XX em Portugal ficou marcado indelevelmente pela revolução de Abril de 1974, que devolveu a democracia e a liberdade ao país, alterando profundamente a sociedade portuguesa em praticamente todos os domínios.

Passados que são mais de 35 anos sobre essa data, encontramo-nos em condições de fazer balanços com alguma profundidade sobre tais alterações ocorridas.

Na área da educação, o sistema educativo português em Abril de 74 caracterizava-se, quando comparado com os demais países europeus, por um reduzido número médio de anos de frequência escolar, baixas taxas de escolaridade entre a população, com consequentes níveis elevados de abandono escolar. Acrescia a esta realidade, grandes taxas de repetências e uma frequência do ensino superior praticamente residual e bastante elitista.

É portanto compreensível que as prioridades educativas se tenham centrado nos últimos 35 anos em fazer aproximar tais indicadores dos valores médios dos nossos parceiros na União, ao mesmo tempo que se tentava responder aos novos objectivos preconizados em termos educacionais, pelas instâncias internacionais.

Façamos então o ponto da situação agora, no final da primeira década do século XXI.

As nossas taxas de escolaridade aproximaram-se significativamente das dos restantes países membros da União Europeia e da OCDE. Hoje em dia, praticamente todas as crianças e jovens portugueses frequentam a Escola. O número médio de anos de escolaridade também se aproximou do dos nossos parceiros e dos países mais avançados em termos educacionais. O abandono escolar reduziu-se drasticamente, a frequência do ensino superior explodiu exponencialmente, com particular realce para a frequência feminina. Apresentamos portanto em finais de 2010 índices de frequência do sistema educativo, ainda que ligeiramente inferiores, mas praticamente idênticos aos dos países nossos parceiros e com os quais nos queremos e devemos comparar. Nestes aspectos quantitativos, em matéria de educação, os 35 anos decorridos cumpriram na sua plenitude uma estratégia de recuperação. Também materialmente as nossas escolas passaram a estar melhor equipadas, muitas foram requalificadas, e em termos de recursos humanos ficaram também melhor apetrechadas, com corpos docentes mais qualificados e mais estáveis, passaram a integrar equipas de apoio especializadas, passaram a servir refeições, e talvez o mais importante, passaram a socializar os jovens de uma forma efectiva, esbatendo significativamente as diferenças sociais de origem. Hoje na Escola todos são tratados por igual e potenciando os seus méritos pessoais.

Vejamos então agora os desafios que temos pela frente. Voltemos a compararmo-nos com os demais. Se nos indicadores quantitativos já praticamente nada temos a recear, nos indicadores qualitativos encontramo-nos praticamente em termos relativos na mesma situação de 1974. Os estudos comparativos mais relevantes são, sem dúvida, os PISA, que comparam os níveis de desempenho dos jovens aos 15 anos nos diferentes países ao nível da leitura, expressão escrita da língua materna, na matemática e nas ciências. E aí ficamos recorrentemente entre os últimos.

O último estudo revela alguma melhoria, sinal que alguns progressos terão sido efectuados nos últimos anos, mas ainda assim, continuamos situados no último terço da tabela.

É este agora o novo desafio que se coloca à educação em Portugal nos próximos 15 ou 20 anos. Colocar os resultados escolares dos estudantes portugueses na primeira metade dos países mais desenvolvidos.

Para isso, em primeiro lugar, é preciso voltar a centrar a Escola no seu objectivo primeiro, principal e constituitivo – o de ensinar e aprender. O foco da Escola jamais poderá ser o professor como foi no passado, por via de ser o detentor do conhecimento, nem sequer poderá ser o aluno, como o é actualmente, fruto da visão romântica que vai predominando acerca do desenvolvimento das crianças e jovens. O foco da Escola terá de ser sempre, e com cada vez maior intensidade, o saber, a transmissão dos saberes, a inteligência, as competências do saber fazer e do compreender.

E para isso há que começar pelo princípio. Concentrarmo-nos no que é essencial. E o essencial em Educação, sem o qual tudo o mais fica irremediavelmente comprometido, é tão só o saber ler bem, saber escrever bem, saber contar bem, resolver problemas bem e entender bem.

É no final do pré-escolar e nos dois primeiros anos do primeiro ciclo que a aposta tem de ser feita e ganha. É aí que se têm de concentrar todas as nossas forças, todos os apoios disponíveis. Não será pedir demais, que à entrada do primeiro ciclo, vindos da educação pré-escolar, todas as crianças já dominem pelo menos os rudimentos da leitura. E tanto que eles gostam de ler as suas historinhas. E que ao fim de dois anos de escolaridade no primeiro ciclo, TODAS as crianças saibam ler na perfeição, saibam escrever correctamente sem erros de ortografia e com caligrafia aceitável, dominem as operações aritméticas básicas, saibam resolver problemas matemáticos simples, entendam o que lêem e escrevem, e que saibam raciocinar.

É neste campo e nestas idades que se ganham as apostas educativas. E não se mascarem mais os resultados. Seja-se rigoroso na avaliação das aprendizagens. Habituem-se as crianças à realização de provas de avaliação. Não se baixe mais os níveis de exigência. Tente-se antes perceber o porquê do mau desempenho nessas provas. Provavelmente concluir-se-á que ou as crianças não foram devidamente ensinadas ou não foram treinadas para a sua realização. Não se coloque tanta ênfase nas expressões plásticas e motoras em desfavor das aprendizagens cognitivas formais. Não nos deslumbremos tanto com as chamadas “novas tecnologias”, que pela sua essência convidam ao superficialismo e onde tudo é fácil. Tudo tem o seu tempo próprio. E na base de tudo estará sempre o ler, o escrever à mão e o resolver problemas, pelas implicações que o desenvolvimento de tais capacidades promovem na estrutura do cérebro em crescimento. E depois saibamos consolidar tais conquistas. Não se permita que haja retrocesso nessas aprendizagens básicas, que os níveis de iliteracia continuem a aumentar.

A língua materna e a matemática nunca poderão ser minimizadas. Elas são muito mais do que só mais duas disciplinas. Elas são os dois pilares em que assenta toda a estruturação do pensamento, e aquele lastro de base que subjaz a todo o bom desempenho escolar.

Não se permita uma tão grande dispersão de disciplinas independentes à medida que se avança no ensino básico, chegando ao extremo absurdo, único em todo o mundo por certo, de ser possível a um aluno do 8º ano ter 16 (dezasseis) professores diferentes em simultâneo. Único no mundo também, serão as aulas de 90 minutos no ensino secundário, quando mais seria necessário elevados índices de concentração, que é sabido ser impossível prolongar por tanto tempo.

Assiste-se assim a imensos factores dispersivos, quando seria necessária concentração no essencial e no basilar.

Introduzam-se paulatinamente as restantes disciplinas à medida que os alunos já possuam as ferramentas de base que permitam as suas aprendizagens: o estudo do meio, as ciências, a história, as línguas estrangeiras, a geografia. Tudo a seu tempo e devidamente consolidado.

Ah e é claro, não se seja mais complacente com indisciplina, falta de pontualidade e faltas de respeito. Os conceitos de prémio e castigo têm de ser reintroduzidos nas Escolas de forma efectiva. Os Encarregados de Educação terão de ser responsabilizados social, civil, monetária e criminalmente se necessário for, pelos prejuízos que os seus filhos cometam ao prejudicar as aprendizagens dos restantes alunos.

É este o desafio que temos pela frente caros colegas.

Devolver a escola à Escola. Centrar a Escola no aprender e no saber.

Isto é claro, se não queremos que a História venha de nós a reter, enquanto classe e enquanto geração de professores, como aqueles que se demitiram do nobre compromisso da sua profissão: o ensinar !