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Um olhar sobre o Insucesso Escolar

Maria da Conceição Marmelo
Agrupamento de Escolas N.º 1 de Portalegre

Desde muito cedo, conduzida à escola pela mãe, a criança chora por vezes algumas lágrimas, quando a mão que a segura e a protege, a deixa entre doces conselhos que ela devolve com alguma insegurança e medo.

É chegada a hora de dar os primeiros passos na sua aprendizagem, que irão mudar toda a sua vida. Passos inicialmente vacilantes, mas que, pouco a pouco, graças a um carinho, a uma ajuda, ao reforço positivo de um sorriso, se poderão tornar gradualmente mais firmes, na longa caminhada que terá de enfrentar.[1]De facto, a escola não é só o lugar onde a criança vem receber umas migalhas de instrução; é toda a vida da criança. Desde o momento em que a criança passou a ser um aluno, toda a ocupação do seu dia está subordinada à escola.» Com efeito, também a própria espontaneidade do aluno está submetida à disciplina da instituição escolar. Há, por conseguinte, uma grande responsabilidade da escola para com ele. Pelo que o educador não pode alhear-se de como em geral é a vida do aluno. O significado emocional da escola é muito importante, e as vivências da criança e do jovem na escola, participam do valor que ela tem.

Actualmente muitas crianças e jovens revelam dificuldades de aprendizagem, que acabam, não raras vezes, por se traduzir no incómodo insucesso escolar. Este problema é relativamente recente. As suas primeiras manifestações datam dos anos sessenta. Foi nesta altura que por razões económicas e igualitárias, se começou a exigir que as escolas envidassem esforços para garantir o sucesso escolar de todos os seus alunos.

Se numa primeira fase o insucesso era apenas imputado ao aluno, isto é, à sua suposta preguiça, falta de capacidade ou de interesse, depressa se colocou a tónica do problema numa dimensão social, em que o insucesso passou a ser assumido como um fracasso de toda a comunidade escolar, reconhecendo a incapacidade do sistema para motivar os alunos, mantendo-os na escola e promovendo o seu sucesso.

É, incontestavelmente difícil e complexo, explicar as causas do insucesso escolar, uma vez que estar em situação de insucesso implica uma enorme variedade de causas, cuja localização pode centrar-se ao nível do aluno e do seu ambiente restrito, ao nível da sociedade, à qual ele pertence, e ao nível da própria escola e do sistema educativo. Desta forma, importante é compreender que o insucesso escolar não é uma fatalidade e que uma criança não está predestinada a ser boa ou má aluna.

As causas do insucesso escolar podem, ou não, residir no facto da criança ter atrasos ao nível do seu desenvolvimento cognitivo, na instabilidade característica da adolescência, que poderá impulsionar o aluno a rejeitar a escola, a desinvestir no estudo das matérias e a assumir comportamentos indisciplinados, na clivagem entre a linguagem familiar e escolar, cuja discrepância, representa mais uma dificuldade acrescida à compreensão e integração dos discentes, levando-os, consequentemente, a desinteressarem-se pelo seu processo de ensino-aprendizagem, uma vez que, para prosseguirem os estudos se sentem constrangidos a abdicar da sua linguagem.

Por outro lado, é reconhecida às famílias mais desfavorecidas uma postura autoritária, que negligencia o diálogo com os filhos, ao invés de o promover. Com efeito, esta situação faz com que, chegados à adolescência, os jovens não estejam bem preparados para enfrentarem as crises de identidade, na afirmação da sua independência. A sua instabilidade emocional agudiza-se, traduzindo a ausência de modelos e valores estáveis, levando-os a desinvestir na escola. Por outro lado, nem sempre são motivados pelos pais para prosseguirem os seus estudos. É mais frequente que, perante a ameaça de insucesso, equacionem por vezes a saída dos seus educandos da escola, o que explica, em alguns casos, as taxas de abandono destes alunos.

Também os conflitos familiares e os divórcios, são apontados como causas do insucesso, às quais se acrescenta a origem social dos alunos que tem sido a causa mais usada para justificar os piores resultados escolares, sobretudo quando são obtidos por alunos originários de famílias de baixos recursos económicos, onde aliás, se encontra a maior percentagem de insucessos escolares. Os valores culturais destas famílias são, segundo alguns sociólogos, opostos aos que a escola propõe. Perante este confronto de valores, os alunos que são oriundos destas famílias estão, por isso, pior preparados para os partilharem. O resultado é não se identificarem com a escola. Nesta linha de ideias, Holligshead, afirmou que os mais desfavorecidos norteiam-se por objectivos a curto prazo (o presente), o que estaria em contradição com os objectivos visados pela educação (a longo prazo). Esta diferença de objectivos e valores, acaba por os conduzir a um menor investimento escolar.

No que concerne ao percurso escolar dos discentes há a referir duas situações basilares: por um lado as retenções do aluno no mesmo ano de escolaridade ou em diferentes anos escolares, que consequentemente vai dar origem a desníveis entre a sua idade e o nível escolar em que se encontra; por outro lado, a transição sem retenções até atingir a escolaridade obrigatória, após o que dá por concluído o seu percurso académico para ingressar no mercado de trabalho.

A demissão dos pais, da educação dos filhos, é hoje uma das causas mais referidas. Envolvidos por inúmeras solicitações quotidianas, muitas vezes não têm tempo para se dedicarem à educação dos filhos.

Depois da família, a escola é a instituição que irá introduzir a criança/adolescente no mundo social que por um lado pode ser acolhedor e voltado para o diálogo ou, ao invés, tremendamente segregador e excluidor. Deste modo, as causas do insucesso escolar dos alunos podem também radicar no professor que terá de ter presente que ensinar não implica aprender. Para o aluno aprender tem que ter vontade, tem que ter consciência da importância e da implicação das suas aprendizagens na sua vida académica e no seu futuro. A criação de expectativas positivas ou negativas influencia, de acordo com as expectativas criadas, o desempenho escolar dos seus alunos. O mesmo acontece com a avaliação, com os extensos currículos, com a linguagem dos manuais escolares, com o elevado número de alunos por escola e turma, com a constituição de turmas muito heterogéneas que podem ser impeditivas de uma boa gestão da aula pelo professor e promotoras de conflitos. Com efeito, há uma elevada sucessão de causas adversas ao sucesso dos alunos, no seu processo de ensino-aprendizagem que, mais tarde ou mais cedo, empurram os adolescentes para fora da escola. Não é o caso do agrupamento onde lecciono uma vez que praticamente não se verifica abandono escolar, em virtude dos alunos, serem orientados para outros cursos, tais como CEF e PIEF, de forma a receberem preparação para a vida activa.

Ajudar os jovens a criarem uma boa identidade com a escola, a reverem-se nela, a obterem resposta aos seus anseios e impedir o divórcio das famílias com a instituição, serão certamente, meios promotores de sucesso. E nós, professores e educadores que somos, as nossas acções devem caminhar ao encontro das necessidades dos alunos, necessidades estas relacionadas com o seu desenvolvimento não somente cognitivo, mas também afectivo, social e motor. Portanto, estar atento ao que realmente ocorre com o aluno, dentro e fora da sala, e actuar em prol de uma melhor interacção, em todo o universo escolar é o papel fundamental de quem se entrega à escola, à educação e aos alunos, perspectivando o seu sucesso, não só na escola como na sociedade, ajudando-os a alicerçar presente e futuro nos quatro pilares fundamentais da educação: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser

Com efeito, a educação é uma riqueza incomensurável, que jamais se encontrará circunscrita aos muros gradeados de uma qualquer escola.

Referências Bibliográficas

BERBAUM, J. (1992). Desenvolver a Capacidade de Aprendizagem. Lisboa: ESSE João de Deus, p88.

BERTRAND, Y. (1991). Teorias Contemporâneas da Educação. Lisboa: Instituto Piaget, pp.105 e ss.

FELIZARDO, D. (1999) Combater as Dificuldades de Aprendizagem – Actividades de Apoio Educativo. 3ª ed. Lisboa: Texto Editora

DUARTE, M. I. R. (2000)  Alunos e Insucesso Escolar: um mundo a descobrir. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional pp136

LEMOS, V., Neves, A., CAMPOS, C., CONCEIÇÃO, J., e ALAIZ, V. (1992). A Nova Avaliação de Aprendizagem – O Direito ao Sucesso. Lisboa: Texto Editora

MUÑIZ, B. M. (1993). A Família e o Insucesso Escolar.  Lisboa: Porto Editora

REBELO, J. A. S. (1993). Dificuldades da Leitura e da Escrita em Alunos do Ensino Básico Porto: Edições Asa.

BENAVENTE, A. et al. (1994). Renunciar à Escola – O abandono escolar no ensino básico. Lisboa: Fim de Século.

FREIRE, P. (1975). Pedagogia do Oprimido, Porto: Afrontamento.

VIEIRA, R. (1992). Entre a Escola e o Lar, Lisboa: Escher.


[1] In Wallon, H., L’ hygiene physique et mentale de l’enfance, in «Bull. Fr. Pedag», Paris, nº 85, Nov. 192