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O Projecto InspiraTIC: mapas conceptuais na era digital

José Luís Torres Carvalho(1)
Centro de Competência TIC | Universidade de Évora

Resumo: Os mapas conceptuais, integrando princípios pedagógicos construtivistas, constituem uma importante ferramenta didáctica de suporte à aprendizagem visual, reforçando a compreensão, estimulando a criatividade, o pensamento crítico e outras competências intelectuais.

A construção e exploração de mapas de conceitos e outros organizadores gráficos em computador oferecem um conjunto de vantagens e potencialidades educativas acrescidas, das quais os professores podem tirar partido como uma mais-valia didáctico-pedagógica e com um desafio à renovação e à inovação das suas práticas educativas.

Neste artigo, serão partilhadas algumas experiências, recursos, resultados e reflexões resultantes do trabalho desenvolvido no âmbito do Projecto InspiraTIC.

Palavras-chave: TIC na Educação; Formação de professores; Recursos educativos digitais; Mapas de conceitos digitais.

 1. Introdução

Mapear (representar de forma espacializada) o conhecimento é uma preocupação já antiga, mas a utilização de mapas de conceitos em educação é uma prática recente e ainda pouco difundida (Carvalho e Maio, 2003a). Os mapas de conceitos têm por objectivo representar relações significativas entre os conceitos, sob a forma de proposições. Ou seja, um mapa conceptual é uma representação esquemática baseada numa estrutura bidimensional de proposições, de significados conceptuais. (Carvalho e Maio, 2003b)

Com origem no movimento da teoria cognitivista da aprendizagem significativa de Ausubel (1968), os mapas de conceitos foram usados pela primeira vez por Novak e Gowin (1984) tendo por finalidade ajudar os estudantes e os educadores a extrair os significados dos materiais de aprendizagem. Esta proposta pedagógica surgiu como uma resposta prática à necessidade de tornar o processo de ensino e aprendizagem mais eficaz. Hoje, e de acordo com Fischer (2002), os mapas de conceitos constituem cada vez mais um suporte indispensável a actividades de aprendizagem, de ensino, de pesquisa, de análise documental e de organização do conhecimento.

O projecto InspiraTIC visou explorar diversas estratégias de aplicação de mapas de conceitos (técnica de estudo; técnica de avaliação; roteiro de aprendizagem, aprendizagem pela representação visual, âncoras cognitivas…), com alunos de diferentes níveis de ensino e de diversas áreas disciplinares, integrados em diferentes escolas.

O projecto teve como principais objectivos: Promover a integração curricular das ferramentas Inspiration / Kidspiration (http://www.inspiration.com/) enquanto ferramentas de organização e representação visual do conhecimento; Construir e partilhar recursos de apoio ao processo de ensino e aprendizagem; Explorar as potencialidades pedagógicas do Inspiration e do Kidspiration; Reflectir sobre estratégias e contextos de aplicação dos Mapas de Conceitos digitais.

 2. Desenvolvimento do projecto

As actividades realizadas compreenderam dois planos de acção:

  • Trabalho entre os professores

Durante um ano lectivo, foram realizadas sessões práticas com os professores participantes (20 docentes) a fim de desenvolver as competências tecnológicas e pedagógicas de utilização e aplicação educativa dos mapas de conceitos criados em computador. Concretamente, o projecto de formação visou a: Familiarização com as ferramentas Kidspiration e Inspiration; Análise de contextos, modalidades e estratégias de utilização pedagógica dos mapas de conceitos e outras técnicas de aprendizagem pela representação visual; Partilha e exploração de exemplos concretos de actividades; Elaboração de pré-propostas de aplicação educativa.

A fim de apoiar e promover a emergência de uma comunidade de prática em torno do Projecto InspiraTIC, foi criado um espaço virtual de trabalho e aprendizagem na plataforma Moodle, através do qual todos os professores e formadores podiam colaborar, discutir e partilhar ideias, recursos e resultados. .

  • Trabalho dos professores com alunos

Paralelamente, os professores foram definindo estratégias e produzindo materiais de apoio à utilização educativa dos programas referidos, que aplicaram em contexto de sala de aula ou outro (biblioteca, sala de estudo acompanhado, sala TIC, etc.)..

Figura 1: Exemplo de um mapa conceptual criado pelos professores para utilização com alunos
 do 1º Ciclo do Ensino Básico

 

Figura 2: Exemplo de um mapa conceptual construído por alunos como produto de uma actividade
 na disciplina de Biologia e Geologia (10º ano)

 3. Produtos e resultados

Os professores foram registando as suas actividades num modelo de vinheta (ficha de descrição de actividade). Estas vinhetas incluíam, para além da descrição das práticas com alunos, exemplos de materiais de apoio produzidos pelos professores e exemplos de trabalhos realizados pelos alunos. Estão publicadas e disponíveis para toda a comunidade educativa na secção “Produtos” da página Web do projecto: http://www.minerva.uevora.pt/inspiratic

Figura 3: Página principal do projecto InspiraTIC

 A análise e discussão dos resultados obtidos incidiu no processo de formação-acção, nas percepções dos professores relativamente às principais vantagens pedagógicas e limitações derivadas da utilização do Kidspiration e do Inspiration com alunos, bem como nos impactos (nos professores, nos alunos e nos processos de ensino e aprendizagem) da integração em contextos educativos destas ferramentas.

a)    Processo de formação-acção

Como referido, ao nível do processo de formação foram consideradas dois planos de análise: a abordagem de formação e a eficácia do processo de formação.

No que se refere à abordagem de formação, as apreciações dos professores recolhidas através de uma escala de Likert de 5 pontos, resultou numa média global de 4,5, o que reflecte de forma muito clara a percepção dos professores relativamente ao contributo da abordagem de formação adoptada para a formação dos participantes.

Das dimensões em análise destacam-se sobretudo a relativa ao trabalho realizado nas sessões presencias conjuntas (centradas na exploração contextualizada do software, na partilha de materiais, ideias e experiências) que surge como o contributo mais relevante para o projecto (com uma média de 4,7) e também o acompanhamento a distância, através da plataforma Moodle (média de 4,5).

Outras dimensões em análise são igualmente consideradas como tendo tido um bom contributo para o projecto, ainda que ligeiramente abaixo da média, nomeadamente a construção/adaptação de materiais didácticos ou possibilidade de aplicação em contexto educativo. Na oportunidade de interacção e reflexão partilhada entre os participantes, o contributo da formação ainda que positivo, foi o que os professores menos valorizaram.

- Eficácia

No plano da eficácia da formação e tendo em conta os objectivos da formação, a opinião dos professores converge para os contributos ao nível dos processos de integração das TIC e da inovação das práticas educativas. O estímulo dado pela formação para a aplicação das TIC na sala de aula e a diversificação das formas de utilização das TIC no processo de ensino-aprendizagem, (com uma média de 4,8, numa escala de 1 a 5), constituem para estes professores, os aspectos de maior utilidade e eficácia do processo de formação. Também a descoberta e criação de novos recursos didácticos para aplicação na sala de aula e a motivação para a participação em outras acções de formação na área da Educação e TIC, foram bastante valorizadas pelos professores, atingindo uma média de 4,7.

b)  Processo de integração educativa

-  Contextos de utilização

Os professores envolvidos no projecto destacaram, como principais contextos das suas práticas pedagógicas o recurso às aplicações Kidspiration e Inspiration em actividades de reforço, revisão e/ou recapitulação de tópicos já desenvolvidos e em actividades de consolidação de conhecimentos/competências. Destaca-se ainda, de entre as várias opções apresentadas, o recurso a propostas desta natureza como forma de motivação dos alunos.

- Vantagens pedagógicas

As principais vantagens pedagógicas encontradas pelos professores participantes, resultantes da utilização do Kidspiration e Inspiration com os alunos enquadram-se em dois níveis de competências: cognitivo e atitudinal.

Ao nível das competências cognitivas, o destaque vai para o desenvolvimento de competências de análise, síntese e de hábitos de reflexão. Estas vieram a revelar-se nos modos empregues para a esquematização dos conhecimentos (representação visual) e organização da informação. Os professores envolvidos referiram ainda as potencialidades pedagógicas ao nível da facilidade na compreensão de textos, na memorização de conceitos e nos desenvolvimentos da criatividade e do sentido crítico.

No que diz respeito às atitudes, os professores envolvidos evidenciaram a motivação, o entusiasmo e o interesse manifestados pelos alunos na exploração das actividades propostas com o recurso às aplicações Kidspiration e Inspiration.

Um dos professores participantes ainda destacou “a utilidade deste programa como ferramenta de trabalho para o próprio professor - na elaboração de relatórios, na exposição de um tema numa reunião,…”.

Um número considerável de professores, na sua reflexão final, assinalaram ainda a pertinência das aplicações Inspiration e Kidspiration nas actividades do 1º ciclo e nas várias áreas disciplinares, considerando a formação de elevado interesse para a sua actividade profissional.

- Dificuldades e problemas

No que se refere a dificuldades e problemas enfrentados por professores e alunos no decurso das actividades, os docentes evidenciaram questões relacionadas com a falta de equipamentos e o reduzido número de computadores com o software instalado. Estas lacunas dizem respeito à falta de equipamentos disponíveis na escola, em parte devido ao facto de as salas de informática estarem quase sempre ocupadas, e também ao número reduzido de licenças a que tiveram acesso, tendo esta dificuldade obrigado a fazer uma gestão muito rigorosa das mesmas, entre computadores a utilizar com os alunos e computadores dos professores.

A falta de tempo para explorar estes recursos de forma conveniente, associada à extensão dos programas das várias áreas disciplinares, foram outras das dificuldades amplamente referidas pelos professores.

4. Conclusões

No que concerne ao impacto nos professores e no processo de ensino e aprendizagem, os professores referiram que este trabalho lhes permitiu diversificar as estratégias de aprendizagem. Os professores ampliaram ainda o repositório de recursos educativos digitais para a sala de aula, com a correspondente melhoria da qualidade desses recursos.

A componente de trabalho autónomo e a colaboração entre colegas fomentada nas sessões presenciais e nos momentos de interacção a distância, facilitaram o desenvolvimento de dinâmicas de auto-formação.

Ainda com base na opinião dos professores, a utilização de estratégias que recorrem aos programas de construção de mapas de conceitos motiva e suscita o interesse dos alunos e ajuda-os a organizar e representar os conceitos e as ideias, assim como a melhorar a sua capacidade de síntese e sistematização, o que favoreceu a abordagem e a compreensão de novos conteúdos curriculares. (Carvalho et al., 2009).

 5. Referências Bibliográficas

AUSUBEL, D. P. (1968). Educational Psychology: A Cognitive View. New York: Holt, Rinehart and Winston.

CARVALHO, J.L.; MAIO, V. (2003a). Potencialidades dos mapas de conceitos enquanto ferramentas cognitivas. IN Actas do Encontro Evolutic 2003. Beja: Escola Superior de Educação de Beja

CARVALHO, J.L.; MAIO, V. (2003b). Aprender a aprender - O papel dos mapas conceptuais. In Actas do IX Fórum “Ensinar e Aprender – Formas e Contextos”. Seia: Biblioteca Municipal de Seia.

CARVALHO, J.L.; ESPADEIRO, R.; MAIO, V.; RAMOS, J.L. (2009). Mapas de conceitos digitais em contextos educativos: O Projecto Inspir@TIC. In I Simpósio Internacional “Buenas Prácticas Educativas con TIC”. Cáceres: Universidad de Extremadura.

FISCHER, F.; Mandl, H. (2001). Facilitating the construction of shared knowledge with graphical representation tools in face-to-face and computer-mediated scenarios. In P. Dillenbourg, A. Eurelings, & K. Hakkarainen (Eds.), Proceedings of euro-CSCL 2001(pp. 230-236). Maastricht, NL.

NOVAK, J.; GOWIN, D.B. (1984). Learning how to learn. Cambridge: Cambridge University Press.

 

 

 

(1)jlc@uevora.pt