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As Eternas Mudanças

Manuel Monteiro
Agrupamento de Escolas de Marvão

É certo e sabido que quando muda o Governo há alterações na educação. Alterações essas quase sempre sem se basearem numa avaliação do que até então se aplicou. Os desígnios políticos falam mais alto. Ou, então, impera a vertente economicista da coisa, como presentemente acontece. As escolas piloto, que se saiba, nunca rejeitaram nada. Tudo é fantástico. Interessa agradar e ficar bem visto na fotografia. Não importando sequer o melhor ângulo…

Saltando para o pós 25 de Abril de 74, ficando por falar nas reformas pombalinas que muitas delas não foram concretizadas e tudo o que se passou a partir de 1820 até à instauração da chamada longa noite fascista, pode-se afirmar que as reformas a partir deste acontecimento foram em catadupa. Com avanços e recuos. Uma vez mais aquilo que se construiu de positivo em determinado momento, logo deixou de existir por força da alternância dos governos democráticos, levando a que quase tudo voltasse à estaca zero. Aplicaram-se, por vezes, modelos importados de outros países, que até já tinham sido abandonados, sem atender à especificidade do nosso país. O que impera hoje é a escola ser um permanente laboratório de experiências. Ainda não se enxergou que uma escola de sucesso tem de atender aos interesses de professores e alunos, sem os quais não há verdadeiro sucesso educativo. Nunca nos esqueçamos que para vencermos, temos de fazer aquilo de que mais gostamos. E para que tal aconteça, a motivação é o fator primordial. Sem motivação, fé e esperança não há energias que possam transformar o mundo.

Atentemo-nos nas recentes medidas. Começando pelo inefável acordo ortográfico. Nunca se viu um país cuja sua língua considerada (mãe) se submetesse a tão ridícula e tamanha humilhação. Não se entendeu ainda que não há acordo possível neste domínio. A língua de um país evolui atendendo ao seu posicionamento geográfico e às ligações privilegiadas que mantém com outros com quem interage, havendo sempre trocas que ao fim de algum tempo se torna norma e não tem nada a ver com outro que não esteja nas mesmas condições. Pode-se aceitar que num acordo se aceite duas grafias para a mesma palavra, para se agradar a gregos e a troianos? Não se atendeu sequer à estética da palavra escrita. Toca a abolir as consoantes mudas! Alguém me explica porquê? Só vejo a necessidade de agradar aos irmãos brasileiros porque há muito as aboliram. Que saudades do tempo em que se escrevia farmácia com ph inicial! E depois defende-se que há uma linguagem falada e outra escrita. Com estas medidas a diferença tende a desaparecer.

E que dizer do novo modelo de gestão? Pelos poderes que se vão acometendo ao diretor executivo, caminha-se a passos largos para a figura imponente e despótica do senhor reitor do tempo da velha senhora. Além da politização da escola, com a participação da autarquia na sua eleição.

Os mega agrupamentos em que se anula por completo a idiossincrasia de cada escola e onde a falta de comunicação falha redondamente. Tudo é alinhado pela escola sede. E que dizer da figura do coordenador de estabelecimento, cujas funções não são mais do que ser bufo da direção executiva!

Adoçou-se a coisa com cada escola a poder organizar-se com a duração dos tempos letivos. Se são blocos de 45 ou 50 minutos ou se juntam ou não os blocos. Terminou-se, sem ter havido uma avaliação, com as aulas de Estudo Acompanhado e de Formação Cívica. Quando ambas tiveram um papel positivo na preparação dos alunos. A poupança falou mais alto.

O par pedagógico de EVT também banido. Para tapar o sol com a peneira aos mais incautos, criaram-se duas novas disciplinas EV e ET. O terceiro ciclo ficou sem Educação Tecnológica. Menos uma disciplina que ajudava a despertar para a vertente artística e prática da vida.

O absurdo da capacidade de gestão dos recursos da escola, quanto ao número de turmas e o sucesso escolar a determinar o número de horas a que a escola tem direito, beneficiando as que têm melhores resultados indiferentemente dos fatores que contribuíram para isso, quando devia ser o contrário para quem mais necessita melhorar a sua “performance”.

Termino esta reflexão perguntando se um país pode sobreviver sem um ensino que permita a formação de profissionais específicos nos vários setores de profissões que não necessitam de formação superior, como os casos da mecânica, técnicos de frio, de cofragem, marcenaria, carpintaria, etc., etc., etc.? Voltando ao ensino profissional que entretanto se abandonou, havendo ainda escolas com material necessário para a reintrodução desses cursos.

Mas continuemos a sonhar. Já diz o poeta que “o sonho comanda a vida”…