PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

Plataforma de Apoio à Promoção do Sucesso Escolar – Ecossistema Empreendedor nas Comunidades Educativas do Alto Alentejo

Manuel Videira Belo
Instituto Politécnico de Bragança
Consultor CIMAA - Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo

Fonte : Teaching entrepreneurship in schools, European Commission, 31/05/2017

  

There is only one subject matter for education, and that is life in all its manifestations[1]

Alfred North Whitehead

O investimento na educação e na formação para o desenvolvimento de competências é essencial para estimular o crescimento e a competitividade: as competências determinam a capacidade da Europa para aumentar a produtividade. A longo prazo, as competências podem desencadear inovação e crescimento, fazer subir a produção na cadeia de valor, estimular a concentração de competências de nível mais elevado na UE e modelar o mercado de trabalho no futuro. Há que centrar esforços no desenvolvimento de competências transversais e em particular as competências empresariais[2].

Para assegurar a competitividade e a capacidade de crescimento de uma economia, é fundamental equilibrar o universo de empresas, mediante o incentivo à criação de novas empresas (start-ups) e a gestão da transmissão de empresas. Alguns estudos[3] sugerem que existe uma correlação positiva entre o empreendedorismo e o crescimento económico, em particular nos países de rendimento elevado, embora o crescimento do PIB seja influenciado por muitos outros factores. O crescimento sustentável baseado na inovação e na excelência depende da existência de um número cada vez maior de start-ups, que apresentam um potencial de criação de mais e melhores empregos. Os países que registam um maior aumento do empreendedorismo são, em muitos casos, os que subsequentemente apresentam maiores descidas das taxas de desemprego. Por outro lado, os sistemas sociais são sujeitos a uma pressão crescente devido à redução da mão-de-obra. Se a Europa quiser preservar com êxito o seu modelo social, necessitará de um maior crescimento económico, um maior número de novas empresas, mais empreendedores dispostos a lançar-se em projectos inovadores e mais pequenas empresas de rápido crescimento.[4]

Promover o empreendedorismo e o auto-emprego constitui, assim, uma prioridade na agenda das políticas Europeia, Nacionais e Regionais, em função do enorme potencial na criação de empregos, estimulando a capacidade de inovação da União Europeia, aumentando os níveis de participação na sociedade e na economia, pelo que a estratégia Europa 2020 reconhece ao empreendedorismo virtualidades várias no crescimento da empregabilidade mediante o reconhecimento e ultrapassando as mudanças estruturais decorrentes do progresso tecnológico e da globalização[5].

Constituindo uma competência chave para a vida, enquanto forma de actuar sobre oportunidades e ideias, transformando-as em valor - seja social, cultural ou financeiro - para os outros[6], o empreendedorismo representa uma competência essencial para o crescimento, o emprego e a realização pessoal, porquanto é estruturante na capacidade dos indivíduos de converter ideias em actos a partir da criatividade, da inovação e da assunção de riscos e, bem assim, da capacidade de planear e gerir projectos com vista a alcançar objectivos[7]. Enquanto competência, tem vindo a ser introduzido nas escolas - nomeadamente nas vertentes curriculares do ensino técnico e profissional – promovendo modelos e ferramentas que operacionalizem competências transversais a educação, formação e juventude[8], devendo passar a ser uma considerada em 2017, pela Comissão Europeia, uma das Competências Chave a incluir na revisão do Key Performance Framework[9], realçando o empreendedorismo e a disponibilidade para a inovação como competências a dinamizar nos currículos escolares nos sistemas educativos europeus[10].

Esta introdução assenta, assim na premissa de que se torna possível o desenvolvimento de competências para transformar a criatividade em acção, fomentado o desenvolvimento pessoal, a cidadania activa, a inclusão social e o nível de empregabilidade da Sociedade[11].

Importa também referir que a educação para o empreendedorismo vai muito além da mera formação nas áreas de gestão e criação de negócios, devendo incluir, obrigatoriamente, os seguintes elementos[12] :

  • Desenvolvimento de atributos e competências pessoais que formam a base do espírito empreendedor (Criatividade; Iniciativa, Predisposição para o Risco; Autonomia; Auto-Confiança; Liderança e Espírito de Grupo);

  • Criar nos alunos a consciência das potencialidades do auto-emprego como opção de carreira real, viável e motivante;

  • Trabalhar em projectos e actividades concretas de âmbito empresarial;

  • Providenciar competências e conhecimento básicos em criação e gestão de negócios com sucesso.

Assim sendo, a promoção do Empreendedorismo no contexto escolar – e como tal a sua aprendizagem - deve priorizar a formação em áreas como: as competências sociais; o trabalho em rede; a resolução criativa de problemas; a deteção de oportunidades; a dinamização de apresentações públicas; a liderança de grupos; a capacidade de persuasão; o trabalho em e com a Comunidade e em parceria; os contextos culturais e sua influência nos negócios; como lidar com a burocracia[13].

Actuando, como até agora foi sendo discorrido, na formação de competências para a vida, a abordagem do empreendedorismo nas escolas transmite, desta forma, aos alunos um outro modo de olhar a Escola e a utilidade das abordagens curriculares, aumentando o ímpeto perscrutador e de pesquisa e a utilização da informação e do conhecimento na resolução de problemas concretos do percurso pessoal e profissional dos alunos envolvidos. O contributo desta perspetiva para a promoção do sucesso escolar e da prevenção do abandono é, assim, fácil de depreender e aqui chegados e como se pretendia concluir, a importância da sua introdução nas Escolas do Alto Alentejo como plataforma de promoção do sucesso escolar para além da preparação, já aludida no presente texto, para os desafios pessoais e profissionais com que os jovens, enquanto cidadãos, se irão deparar e o seu contributo para a sociedade, enquanto potenciais criadores de riqueza e emprego.

A implementação desta plataforma de promoção do sucesso escolar implica a adopção do programa da Associação Coração Delta – Centro Educativo Alice Nabeiro, plasmado no Manual de Empreendedorismo “Ter Ideias para Mudar o Mundo” e que consiste num estímulo à produção de ideias ou projetos empreendedores de crianças dos 3 aos 12 anos e cujo desenvolvimento envolve a participação de três intervenientes/unidades:

  • CIMAA – Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo;

  • CEAN – Centro Educativo Alice Nabeiro;

  • BEM – Binómio Escola(s) do Concelho / Município.

Constituindo as acções de gestão, coordenação e monitorização dos projectos processos determinantes no sucesso dos mesmos, importa explicar o arranjo organizacional e lógica de funcionamento desta plataforma, cuja dinâmica se pretende que fomente um verdadeiro ecossistema empreendedor nas escolas do território, factor decisivo para um ambiente favorável ao sucesso escolar dos nossos alunos.

Intervindo as três unidades aludidas em consonância e de forma transversal, importa estabelecer responsabilidades e atribuir funções.

            Basicamente a CIMAA assume a Coordenação e da Plataforma, o CEAN a transmissão das competências fundamentais (aplicação do Manual já referenciado) para a implementação dos projectos empreendedores nas escolas, sendo o BEM o verdadeiro espaço de criação e desenvolvimento das ideias e projectos empreendedores nos territórios e comunidades de cada município.

            O Esquema 1 pretende demonstrar a transversalidade inerente à execução do projecto e funcionamento da plataforma vertida nas intersecções 1,2,3 e 4 e bem assim e por consequência, traduzir as três principais responsabilidades da CIMAA (A,B e C).

 

 

 

 

Esquema 1 – Plataforma de Apoio à Promoção do Sucesso Escolar – Ecossistema Empreendedor Alto Alentejo : Responsabilidades CIMAA e Transversalidade

Fonte : Elaboração Própria

 

Estas atribuições e responsabilidades ocorrem, obrigatoriamente, num contexto de intersecção com as tarefas a desempenhar pelos restantes parceiros directos do projecto – O Centro Educativo Alice Nabeiro (CEAN), as Escolas e os Municípios onde se localizam, aqui designados por Binómio Escolas / Municípios (BEM) – donde resultam as seguintes realidades :

  • Intersecção 1 – Concepção e Execução : Facilitação – Implicando, a plataforma, a adopção do projecto “Ter Ideias para Mudar o Mundo” do CEAN, a articulação entre a CIMAA – responsável – e o CEAN – conceção e aplicação – tem um cariz fundamentalmente facilitador e espoletador do processo;

  • Intersecção 2 – Intervenção do CEAN (Formação, Encontro Final e Plataforma Digital): Preparação – A aplicação e adopção do projecto “Ter Ideias para Mudar o Mundo” obriga a um programa de trabalho articulado entre o CEAN e o BEM, por forma a preparar adequadamente o território educativo para a implementação do projecto, nomeadamente a formação de colaboradores e professores e o acesso a informação e treino específicos das área mediante a disponibilização de recursos, nomeadamente digitais, para o efeito;

  • Intersecção 3 – Execução e Monitorização : Estimulação – Com o apoio da CIMAA e estando o formato de intervenção adoptado (a partir do projecto do CEAN), importa que o BEM adquira as competências necessárias para… e crie dinâmicas de desenvolvimento de programas empreendedores no seio e contexto das diversas comunidades educativas, em complementaridade com a existência de ferramentas de monitorização e avaliação de desempenho em cada BEM e na globalidade;

  • Intersecção 4 – Ecossistema Empreendedor : Implementação – Envolvendo todos os parceiros directos, a implementação dos projectos nos espaços BEM, criando um verdadeiro Ecossistema Empreendedor, resulta, assim, da articulação das intersecções anteriores, mediante a coordenação e monitorização da CIMAA.

Neste contexto de intersecção com as tarefas a desempenhar pelos restantes parceiros directos do projecto e implicando o desenvolvimento da Plataforma acções de coordenação e monitorização, as atribuições da CIMAA como responsável pela implementação do projecto no território, deverão distribuir-se pelas seguintes áreas:

  • A - Coordenação e Apoio à Implementação – Reuniões Preparatórias e Inventariação de Recursos;

  • B - Acompanhamento e Monitorização – Criação e Análise de KPI’s (Key Performance Indicators) e Relatórios de Execução;

  • C - Comunicação, Promoção e Divulgação – Conceção e Execução de Plano de Comunicação.

Para uma real compreensão do trabalho a implementar pela CIMAA foi criada uma Matriz de Intervenção que se apresenta na Tabela 1 e que pretende caracterizar os formatos funcionais de coordenação e monitorização decorrentes do funcionamento da plataforma.


 

 

 

Tabela 1 - Matriz de Intervenção - Responsabilidades CIMAA e Transversalidade

Funções/Responsabilidades

Intervenções/Atribuições

Intervenientes/Parceiros

Cronograma de Intervenção

A - Coordenação e Apoio à Implementação – Reuniões Preparatórias e Inventariação de Recursos

A1 – Desenvolvimento de Reuniões Preparatórias – Definição de Lógicas de Intervenção e Funcionamento (articulação com os intervenientes)

P1 - CIMAA – CEAN

P2 – CIMAA – BEM (por Município)

P3 – CIMAA-CEAN-BEM (por Município)

 

A2 – Inventariação dos Recursos (materiais e humanos) existentes e necessários, na rede de parceiros, para a implementação do proejcto

A3 – Programação e Calendarização- Estruturação a prazo das actividades a desenvolver

A4 – Plataforma de Apoio – Verificação de necessidades e adequação de recursos

P3 – CIMAA-CEAN-BEM (por Município)

 

B - Acompanhamento e Monitorização – Criação e Análise de KPI’s e Relatórios de Execução

B1 – Criação e Definição de KPI’s - Key Performance Indicators (e.g. nº potencial de escolas vs nº de escolas aderentes; nº de projectos iniciados vs nº de projectos concluídos; nº potencial de professores a envolver vs nº efectivo de professores envolvidos)

P3 – CIMAA-CEAN-BEM (por Município)

 

B2 – Reuniões de Acompanhamento – Cumprimento de Objectivos e Metas (e.g. análise de KPI’s estabelecidos previamente)

P2 – CIMAA – BEM (por Município)

 

 

B3 – Produção de Relatórios de Funcionamento e Execução – Globais e Sectoriais / Periódicos e Finais

P3 – CIMAA-CEAN-BEM (por Município)

 

 

Tabela 1 - Matriz de Intervenção - Responsabilidades CIMAA e Transversalidade(Cont:)

Funções/Responsabilidades

Intervenções/Atribuições

Intervenientes/Parceiros

Cronograma de Intervenção

C - Comunicação, Promoção e Divulgação – Conceção e Execução de Plano de Comunicação

C1 – Estruturação do Plano de Comunicação – Definição de Segmentos Alvo e Política de Posicionamento - Adaptação de Variáveis e Canais de Comunicação

CIMAA – CEAN - BEM

 

C2 - Coordenação e Implementação do Plano de Comunicação do projecto

CIMAA

 

C4 – Inserção e Gestão de conteúdos em Redes Sociais a definir e adaptadas à política de posicionamento – Community Management

CIMAA

C4 – Elaboração e Gestão de Calendário de Eventos Temáticos alusivos ao funcionamento da Plataforma – Propostas :

C4.1 – Empreendedorismo nos Currículos e Contextos Escolares – Meios Académico e Escolar

C4.2 – Projectos Empreendedores nas Comunidades Educativas – Realidades em Territórios NUT III (Portugal e Espanha) – Meios Político-Administrativo e Escolar

C4.3 – Plataforma Ecossistema Empreendedor nas Comunidades Educativas do Alto Alentejo: Apresentação dos Projectos BEM – Comunidade em Geral

CIMAA – CEAN - BEM

 

 


[1] Cf.  The Aimes of Education, Collier-Macmillan, 1968, pp.6-7

[2] Repensar a educação - Investir nas competências para melhores resultados Socioeconómicos, Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, Comissão Europeia, 2012

[3] Cf. Global Entrepreneurship Monitor 2015/2016 Global Report,

[4] Aplicar o Programa Comunitário de Lisboa: Promover o espírito empreendedor através do ensino e da aprendizagem, Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões, Comissão Europeia, 2006

[5] Cf. Employment and Social Developments in Europe 2015, Directorate-General for Employment, Social Affairs and Inclusion, European Commission, 2015; Report on the results of public consultation on The Entrepreneurship 2020 Action Plan, DG Enterprise and Industry, Unit D.1 – Entrepreneurship 2020, European Commission, 2012

[6] Sense of Initiative and Entrepreneurship Competence Conceptual Reference Framework, Institute for Prospective Technological Studies, European Commission, 2015

[7] Proposta da Comissão relativa a uma Recomendação sobre as competências-chave para a aprendizagem ao longo da vida, Comissão Europeia, 2005

[8] Entrepreneurship Competence: An Overview of Existing Concepts, Policies and Initiatives, Joint Research Centre, European Commission, 2015

[9] Cf. OJ 2006/962/EC 

[10] A New Skills Agenda for Europe - Working together to strengthen human capital, employability and competitiveness, European Commission, 2016

[11] European Commission/EACEA/Eurydice, 2016. Entrepreneurship Education at School in Europe. Eurydice Report. Luxembourg: Publications Office of the European Union.

[12] Cf. Assessment of Compliance with the Entrepreneurship Education Objective in the Context of the 2006 Spring Council Conclusions ; Entrepreneurial Learning : A Key Competence Approach, South East European Centre for Entrepreneurial Learning, 2011

[13] Educating the Next Generation of Entrepreneurs, World Economic Forum, 2009