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Maria Celeste Vaz de Souza
Professora Aposentada

Este texto pretende corresponder ao pedido que me dirigiram dois antigos alunos meus – a Maria Luísa Moreira e o Francisco Simão – que muito prezo e aos quais não quereria recusar o contributo deste breve testemunho.

Referir-me-ei particularmente aos tempos do antigo Liceu Nacional de Portalegre, que vivemos ainda no primitivo e tão característico palacete da Praça da República. Aí era possível um convívio próximo entre professores, alunos e funcionários que – também devido a alterações no tipo de relações entre as pessoas – se modificou e atenuou mediante as características do edifício novo.

Sob a “ batuta” de um reitor dotado de notáveis qualidades do ponto de vista humano e profissional, recordo um ambiente agradável que superava as limitadas condições materiais em que porventura se considerava que ali se vivia.

Não conservo especial lembrança de qualquer situação particularmente desagradável que me tenha afetado durante aqueles tempos – nem por ter sido professora de filhos de vários colegas (que nunca interferiram nas minhas relações com eles) nem por ter “fama” daquela dureza, exigência e rigor que a minha imagem transmitia, sobretudo nos meus primeiros anos de ensino. Nem sequer, nos perturbados anos do PREC, durante os quais diversas pessoas foram molestadas devido às razões ideológicas então em conflito, fui afetada na minha pessoa ou no meu trabalho, embora se soubesse que eu não era afeta aos ideais de abril.

Recordo os tempos de exigência profissional que se viviam nas primeiras décadas da minha atividade docente. A este propósito, lembro que tive uma turma do então chamado sétimo ano, que, tendo apenas dois professores para o conjunto das disciplinas, no fim do ano letivo se queixava “amargamente” de não ter gozado nem sequer um feriado de aulas, porque nenhum de nós, professores, tinha dado uma única falta.

Episódios pitorescos também surgiam. Por exemplo: houve uma época em que eu, por vezes, - com as supostas precauções… - dava o mesmo enunciado de ponto escrito a duas turmas que se seguiam no horário. A primeira turma tinha a aula numa sala daquele edifício a que chamávamos “o anexo” e que tinha a particularidade de ter uma fila de carteiras encostadas a uma parede onde existiam portas, sempre fechadas, que davam para o corredor. Vim a descobrir (não sei já como…) que os alunos da primeira turma passavam o ponto (com que habilidade e discrição..) por debaixo dessas portas para colegas da turma seguinte que esperavam no corredor pela dita benesse.

Claro, a partir dessa descoberta não voltou a acontecer o mesmo, mas, sem o confessar, não deixei de achar certa graça à engenhosa “brincadeira”…

Com este episódio algo jocoso, termino o meu testemunho sobre tantas décadas da minha vida profissional no ensino público, toda ela passada neste Liceu (depois Escola Secundária) com a breve interrupção de um ano, motivada pela frequência do estágio pedagógico que fiz em Lisboa no então Liceu Dona Filipa de Lencastre. Anos de uma vida profissional que não tinha desejado, mas que acabou por me deixar algumas gratas recordações.