PROFFORMA

REVISTA ONLINE DO CENTRO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DO NORDESTE ALENTEJANO

 

 

 

 

 

Interpretações

Domingos Fernandes
Instituto de Educação da Universidade de Lisboa

O Professor Domingos Fernandes, nome de referência nas Ciências da Educação em Portugal e no estrangeiro, é Catedrático no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, onde coordena de unidades curriculares e cursos de graduação e pós-graduação no domínio da avaliação em educação.

Investigador na Unidade de Investigação & Desenvolvimento em Educação e Formação da Universidade de Lisboa.

Leciona regularmente em universidades nacionais e internacionais ao nível pós-graduado.

Autor de mais de uma centena de publicações em domínios tais como a avaliação em educação, o desenvolvimento curricular, a formação de professores, a avaliação de programas e de políticas públicas de educação e a pedagogia no ensino superior é, também o coordenador da equipa MAIA (Monitorização-Acompanhamento-Investigação-Avaliação), que desde o ano letivo de 2019/20 tem apoiado, e fomentado, uma efetiva avaliação pedagógica  para as aprendizagens na Escola Portuguesa.

Mas o Professor Domingos Fernandes é também um Homem da arte da fotografia e da palavra, capaz de captar momentos, de dizer o tantas vezes indizível, de convocar em nós novas formas de ser, para além de existir.

Neste número da PROFFORMA o Professor oferece ao leitor imagem e letras, numa simbiose simultaneamente perturbadora e tranquila, que nos faz sentir, compreender?, que tem de haver muitos sentidos para além do óbvio.

Como na vida, na Escola!

1

no inapelável cerco das vidas

moem-se os males no silêncio

de cidades perdidas de sentido

 

e tudo são inconsoláveis penas

mãos líquidas nas paredes nuas

ardendo devagar na pele do vento

 

o que fica é um olhar boiante

o travo ácido das praças vazias

a lâmina cruel da lava do tempo

 

*****

 

na sua vibrante corrente de seiva

as árvores abrem-se como pétalas

desafiando o desconcerto do céu

 

 

 

 

2

as mãos são frias e secas

sôfregas lâminas de vento

mariscando na areia mole

 

os pés empurram as vidas

por quiméricos caminhos

de redes lambendo as águas

 

os corpos são o sal dos dias

como gigantones dançantes

esculpindo os seus poemas

 

 

 

3

a água corre púrpura

tingida pela roda do sol

ainda impoluta e bailarina

 

na mansidão de tudo são

dançantes os vultos que

buscam o divinal sustento

 

algo renasce com as aves

que despencam dos céus

pacificados das auroras

 

algo insólito e poderoso

que a luz única não revela

e que parece a alma do céu